Descendentes de Antonio Jose Leite Bastos.

Info. Hist�ricas


Mariano de Paula Santos

Irm�os guarda-freios.

Mariano de Paula Santos cresceu ouvindo o apito dos vapores que entravam no Rio Potinga, afluente do Rio Igua�u. Eles passavam em frente � sua casa, � margem direita do rio, na localidade de Coxos, Rebou�as, para carregar erva-mate nos dep�sitos de Quirino de Paula, Jos� de Andrade, Ant�nio Beltr�o e Em�lio de Andrade. Os pais de Mariano, Ant�nia Pacheco dos Santos e Jos� Severino de Paula eram agricultores. Para eles o mundo se resumia ao lugarejo e, ao ir e vir dos navios.
Ainda Crian�a, um dia, Mariano foi com seu pai a Rebou�as e ouviu um apito.
- Pai, por qe esse apito � diferente?
- Porque � o apito do trem de ferro. Hoje voc� vai conhecer o trem.
Mariano em sua inoc�ncia de crian�a, sem nunca ter visto um trem, imaginava ser um homem grande e forte que assobiava, com tanta for�a, que podia ser ouvido � dist�ncia. N�o demorou e o trem foi se aproximando. Com medo, Mariano agarrou-se � perna do pai e largou s� depois que o trem desapareceu na curva.
Em casa, fascinado, contou � sua m�e e perguntou:
- M�e, quando eu crescer, posso trabalhar num trem?
- Que id�ia menino! Voc� aqui do mato, trabalhar em trem! Voc� fica aqui ajudando sua m�e e seu pai.
Embora triste com a negativa da m�e, Mariano n�o desistiu.
- Pai, o senhor me leva para viajar de trem?
- Claro! Se um dia eu for viajar, eu levo voc�.
Mariano aproveitou e perguntou:
- E quando eu crescer, posso trabalhar no trem?
- Que conversa � essa Mariano? Nosso lugar � aqui na ro�a.
Os anos foram passando e Mariano, sempre que podia, ia � esta��o de Rebou�as ver os trens. Em duas oportunidades viajou de trem com seu pai e seu encantamento pelos comboios aumentou. Em 1938 foi prestar o servi�o militar na cidade de Ponta Grossa, grande entroncamento ferrovi�rio. Era o que Mariano mais queria. Estava no lugar certo. Era s� esperar uma chance para come�ar a trabalhar na Rede.
Em 10 de setembro de 1940, Mariano casou-se com Francisca Moreira, irm� de Arthur Moreira, telegrafista, casado com Celina Bastos, tamb�m telegrafista. O casal de telegrafistas trabalhava na esta��o de Caxambu, pr�ximo a Castro. Quando a Segunda Guerra Mundial acabou, em 1945, Mariano, com a ajuda do cunhado Arthur Moreira, entrou na Rede, na fun�ao de guarda-freios, em Ponta Grossa. Passou a trabalhar nas linhas: Ponta Grossa-Porto Uni�o e Ponta Grossa-Itarar�-Ourinhos.
Trabalhando no trem de cargas, Mariano viajava em cima dos vag�es, desafiando o perigo.
- Era muito perigoso! Quando passava nas pontes e t�neis a gente tinha que deitar. O maquinista apitava a locomotiva avisando do perigo. Mas, �s vezes, o guarda-freios estava cansado e, no escuro, com chuva, n�o via o t�nel e morria, - conta Mariano de Paula Santos, nascido a 01 de outubro de 1916.
Considerada uma das melhores op��es de emprego, por oferecer bons sal�rios e estabilidade, os ferrovi�rios incentivavam seus familiares a ingressar na Rede. Os im�os de Mariano: Jo�o, Lindolfo, Jos� e Maur�lio, que tamb�m trabalhavam na ro�a, a convite de Mariano, trocaram a vida do campo pela da cidade, para trabalhar nos trens. Todos eles eram guarda-freios, porque havia falta de pessoal nessa fun��o, por ser muito perigosa.
Jo�o de Paula fazia a linha Ponta Grossa-Curitiba. Certa vez, quando o trem chegou � esta��o de Caracar�, enquanto fazia a manobra, Jo�o foi levar o "pode" para o maquinista Jo�o Verguesim prosseguir viagem e esqueceu que tinha uma ponte sobre a linha f�rrea. O trem come�ou a se movimentar.
- Jo�o! Jo�o! A ponte! A ponte! Abaixe-se! - gritou, desesperado, o guarda-chave.
O alerta foi em v�o. Ouviu-se um baque surdo, seguido de gritos de horror dos funcion�rios e passageiros que se encontravam na esta��o. Era o dia 27 de fevereiro de 1971, �s 13h10. Morte est�pida desse filho do Potinga. Jo�o havia deixado de ouvir o apito dos vapores para ouvir o apito dos trens. Essa mistura de sons, desse mensageiro do progresso, confundiu Jo�o. Ele acabou sendo v�tima do infort�nio, aos 52 anos, deixando vi�va Laudelina Ferreira de Paula e �rf�os os filhos: Maria Zanira, Luis Arthur, Rita Aparecida e Luzia. A casa 416, da Rua Olavo Bilac, passou a ser uma resid�ncia triste. Ficou apenas os sinais da passagem do valoroso guarda-freios Jo�o de Paula.
Lindolfo de Paula era guarda-freios e trabalhava na linha Ponta Grossa-Porto Uni�o e Ponta Grossa-Itarar�-Ourinhos. Uma quinta-feira pela manh�, Lindolfo se preparava para mais uma viagem. No p�tio da esta��o de Ponta Grossa ele foi saindo, acenando para os colegas.
- Bom trabalho, Lindolfo! - gritou o guarda-freios Antonio Taques.
O trem misto j� estava em movimento. Nesse instante, o guarda-freios Jo�o Janu�rio que tamb�m ia com Lindolfo, nesse trem, gritou:
- Lindolfo! Olha o trem!
Distra�do, Lindolfo caiu nos trilhos, sem que nada pudesse ser feito. Na esta��o Roxo Rodrigues ficaram as marcas do sangue de mais um filho do Potinga. Ironia do destino, Lindolfo sobreviveu aos desafios da fun��o de guarda-freios, para morrer diante dos olhares at�nitos de centenas de pessoas que se aglomeravam na esta��o de Ponta Grossa, uma das mais movimentadas da regi�o.
Jos� e Maur�lio trabalhavam de guarda-freios na mesma linha.
- Eles entraram na Rede na fun��o de guarda-freios porque era mais f�cil, tinha falta de pessoal. Ent�o meus chefes pediram para trazer os outros irm�os. Travalhavam tamb�m de guarda-freios comigo: Juliano de Paula, Ant�nio Taques, os irm�os Orlando Querino e Jos� de Jesus, Jo�o Janu�rio, Ant�nio da Luz, Sebasti�o Teixeira, entre outros. Eram tr�s guarda-freios por composi��o. Se o trem estava em movimento era obriga��o nossa estar em cima dos vag�es. Uma vez o Sebasti�o Teixeira, o Querino de Jesus e eu est�vamos voltando de Porto Uni�o, em uma noite fria de inverno. Era por volta das duas horas da madrugada, entre Rio Azul e Rebou�as, estava geando. N�s em cima dos vag�es aguentando firme aquele frio que calava na alma. Na esta��o de Rebou�as, a gente desceu e foi se aquecer perto da fornalha da locomotiva. O sebasti�o n�o desceu e estranhamos. Voltamos em cima dos vag�es e ele estava deitado, im�vel por causa do frio. N�s tiramos o Sebasti�o e levamos para o bagageiro e ele voltou ao normal. At� hoje eu penso: "Como � que a gente aguentava trabalhar naquela fun��o", - conta Mariano de Paula Santos aos 91 anos.
Em 1954, Mariano passou a exercer a fun��o de cont�nuo da chefia da Rede, em Ponta Grossa. Nessa fun��o sua vida melhorou. N�o precisava mais enfrentar a chuva e o frio em cima dos vag�es. Em seguida foi promovido a escritur�rio. Com vontade de progredir, em 1960, prestou concurso para chefe de trem e foi aprovado.
- O chefe de trem era respons�vel por tudo. Corria o trem conferindo as passagens. Tirava passagem para quem n�o tinha e tamb�m em viagem, onde n�o havia esta��o. Os trechos de mais passageiros eram: Ponta Grossa-Porto Uni�o e Ponta Grossa-Itarar�. No meu tempo eram tamb�m chefes de trens: Jo�o e Lauro Costa, Manoel Mendes, �lvaro Costa, entre outros. Em 1964, passei a fiscal de trem e, 1968, a inspetor de trem, fun��o na qual me aposentei. Dos meus Filhos, o Nelson era agente de esta��o em Desvio Ribas. Durante o tempo que fui ferrovi�rio lembro-me dos maquinistas: Jo�o Verguesim, Ant�nio e Jos� Maravieski, dos agentes de esta��o: Arthur Martins, Sebasti�o Eurico Oliveira e tantos outros colegas. Dediquei minha vida inteira aos trens e fico triste quando passo pela esta��o de Ponta Grossa e n�o vejo mais, nem os passageiros. Chamam a esta��o de Saudade, para mim � a esta��o da Tristeza, - recorda Mariano de Paula Santos.

Tirado do Livro: Bach, Arnoldo Monteiro. Trens. Ponta Grossa: Ed. do Autor, 2008. 640p.
[email protected]


PÁGINA INICIAL | BASTOS, A ORIGEM | PESSOAS ILUSTRES | OUTRAS FAMÍLIAS | CONTATO